segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Momentos e Histórias

Tardezinha de sábado:


Foi numa tarde de sábado. Nos reunimos pra tocarmos berimbau, cantar, enfim, montarmos uma bateria e aprimorarmos o ritmo.

Antes de começarmos, ainda falando sobre acontecimentos relacionados com o canto na roda capoeira, o Mestre Ananias diz: “menino, você não pode cantar pontos de gira de candomblé na roda de capoeira, isso é perigoso e pode te trazer problemas um dia”, e aí contou...

“Uma vez, lá na Bahia ainda, eu estava na minha casa e alguém começa a me chamar, lá no portão. Saí pra ver quem era e lá estava um conhecido meu, e ele, em tom de desespero e angústia, me disse: “Ananias, estamos precisando da sua ajuda pelo amor de Deus”. Eu percebi que era sério e perguntei: “o que foi?”. Daí ele contou... “estávamos fazendo uma roda de capoeira de apresentação, aí o cantadô começou a cantar pontos de candomblé e aí dois cabras que a gente nunca viu “bolaram” e começaram a se pegar, a brigar e se atacarem e ninguém deu conta dos dois! Ninguém consegue “fazer subir” aqueles espíritos.

Aí eu perguntei pra ele: “e aí, o que vocês fizeram?”. Ele respondeu...”nós conseguimos colocar os dois lá dentro do barracão, mas eles tão se matando lá, tão se mordendo, se pegando”.

Mestre Ananias disse então... “vou chamar outro amigo pra gente ver o que a gente consegue fazer pra resolver isso”. Então eu fui, conversei com meu amigo sobre o acontecido e combinei com ele o que íamos fazer... “nós vamos ter que entrar lá no barracão e amarrar aqueles dois pra eles não se matarem lá mesmo. Depois vamos ter que sair com eles lá pro rio, porque é água corrente, e quando der meia noite, na virada do dia, a gente vai ter que entrar com eles na água e aí a gente vai fazer as rezas e mandar esses espíritos embora, tá ok? E esse meu amigo disse... “tá!”

Então nos fomos pra lá, pro barracão. Depois de muita batalha conseguimos amarrar os cabras. Depois a gente saiu lá pro rio. Mas os dois não paravam de se bater e revirar resistindo em ir com a gente e, quando a gente já estava chegando no rio, um deles conseguiu escapar da nossa mão e se jogou no rio. Nós pulamos também atrás dele, mas não achamos mais ele... Esse nós não conseguimos salvar! E aí fechou a história.

Aí, voltando ao que tinha recomendado no começo, reforçou o que tinha dito a um dos que estava lá com a gente nesse sábado a tardezinha: “você não deve cantar músicas de gira de candomblé na roda de capoeira porque isso pode te trazer problemas que você não vai dar conta de resolver”.

Depois disso, fomos armar e afinar os berimbaus pra fazermos o nosso ritmo, como era nosso propósito para aquela tarde.